Gemidos da criação e grito do pobre: interpelação à teologia
DOI:
https://doi.org/10.46525/ret.v33i2.863Abstract
Dados recentes alertam-nos para uma situação paradoxal de verdadeiro “apartheid” socioambiental. Daí a necessidade de se analisar a complexidade das mútuas relações entre gemidos da criação e grito do pobre. Intenção nossa, aqui, é fazê-lo a partir da eleição de uma grelha de leitura: do mito à metáfora. Trata-se, na verdade, de articular a advertência de M. Augé de que «devemos escapar do pesadelo mítico» e a afirmação de Paul Ricoeur de que a metáfora encarna uma quebra de paradigma. Num primeiro momento, submeteremos os relatos bíblicos da criação a esta grelha de leitura. Consideradas sob essa ótica, as narrações bíblicas constituem fruto de um processo de “desmitologização” e, portanto, também de “desmistificação” dos mitos das origens das civilizações do Antigo Oriente. Num segundo momento, essa mesma grelha de leitura será aplicada ao “nosso tempo”. Também hoje individuamos verdadeiras mistificações da realidade em detrimento dos interesses e da vida de nossas maiorias pobres. Buscaremos também aqui instaurar o árduo processo de “desmistificação” destes mitos contemporâneos. Finalmente, num terceiro momento, esboçaremos, a partir de nossa genuína tradição de fé, uma teologia da criação que corresponda responsavelmente à gravidade da presente situação de “apartheid” socioambiental.
Palavras-chave: Apartheid socioambiental. Gemidos da criação. Grito dos pobres. Mito. Metáfora. Teologia da criação.
Abstract: Recent data have alerted us to a paradoxical situation of real socio- -environmental “apartheid”, making it necessary to analyse the complexity of the relationships between the groaning of creation and the cry of the poor. Our intention, here, is to do so using the following reading grid: from myth to metaphor. We will discuss M. Augé’s warning “we must escape the mythical nightmare”, with Paul Ricoeur’s statement that the metaphor embodies a paradigm break. We will first submit the biblical accounts of creation to this grid. Considered from this perspective, biblical narratives derive from a “demythologization” process, a “demystification” of the origin-myths of Ancient Middle Eastern civilizations. This reading grid will then be applied to “our times”. Today, we also share true mystifications of reality at the expense of the interests and life of the poor who make up the majority of the population. We will seek to set up the difficult “demystification” process of contemporary myths. Finally, in the third stage and from the genuine tradition of our faith, we will outline a responsible theology of creation that matches the gravity of the present situation of socio-environmental “apartheid”.
Keywords: socio-environmental apartheid; the groaning of creation; the cry of the poor; myth; metaphor; theology of creation.
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