Quarenta anos da "Laborem Exercens". Uma releitura sobre o trabalho e a dignidade humana
DOI:
https://doi.org/10.46525/ret.v36i1.1644Resumo
A boa nova de Jesus Cristo não se destina somente a cada pessoa, individualmente considerada, mas à sociedade e à criação inteira. O Evangelho é chamado a dar forma à vida social, ou seja, a forma do amor de Cristo. É à luz deste amor que se deve orientar os cristãos em sua missão de construir uma sociedade justa e solidária.
A Doutrina Social da Igreja tem também uma dimensão pastoral, pois visa formar e acompanhar os cristãos nos vários âmbitos da sua existência, sobretudo no campo do trabalho e da política. Mesmo sabendo que hoje vivemos num contexto cultural de radical secularização, onde a Igreja já não teria mais o direito de fazer ouvir a sua voz. Por isso, o presente artigo visa contribuir com uma reflexão crítica mostrando que a Igreja não pode ser indiferente frente à dimensão humana e humanizadora da vida social, em especial no espaço laboral. Sua missão consiste em fecundar e fermentar a sociedade com o Evangelho (CDSI, 62). “O homem é o caminho primeiro e fundamental da Igreja (Redemptoris Hominis, 14).
À luz da encíclica “Laborem Exercens”, que neste ano completa 40 anos de sua publicação, tentamos explorar a importância do trabalho para o homem a partir da centralidade da dignidade integral da pessoa humana, salvaguardando os seus direitos inalienáveis. O capital é o fruto do trabalho e a ele se destina. Portanto, o trabalho tem uma prioridade intrínseca em relação ao capital. Como bem lembra a encíclica: “o trabalho é a chave essencial de toda questão social” (LE, 3). O trabalho visto em chave personalista, como quis São João Paulo II, possui uma dupla dimensão, a objetiva, que se pauta na capacidade produtiva e transformadora do homem; e outra subjetiva, que é o próprio agir do homem e sua realização pessoal. Deve haver sempre uma complementariedade entre ambas. O trabalho procede da pessoa e se ordena a ela.
Infelizmente, ainda hoje persiste o problema da “questão operária”, por conta das várias demandas ligadas à exploração dos trabalhadores e suas justas reivindicações. A lógica economicista, produtivista e mercadológica, sempre denunciada pelo Papa Francisco, contradiz a dignidade do trabalho perdendo de vista a centralidade da pessoa humana. A raiz de muitos problemas ligados ao mundo do trabalho decorre de uma crise antropológica profunda, fruto da negação da primazia do ser humano.