O coração na boca
a música litúrgica como ação ritual e expressão sensível do mistério celebrado
DOI:
https://doi.org/10.46525/ret.v38i1.1770Resumo
Este artigo discute a música litúrgica no contexto do Concílio Ecumênico Vaticano II. Por meio de (re-)leituras sobre a gestualidade presente na canção popular Coração na boca de Zélia Duncan, adentra-se o universo da expressão vocal e sonora da liturgia. Na “cena” litúrgica, a música atinge os sujeitos e sua sensibilidade, e lhes imprime comportamentos rituais conscientes ou não, relacionados ao modo de apreensão da palavra litúrgica modulada pelo canto e a música. Durante as ações rituais, a sacramentalidade, a ritualidade, a funcionalidade e a ministerialidade da música litúrgica não são categorias naturalmente intuídas. Deste modo, são necessárias chaves que abram perspectivas de interpretação do dado objetivo da fé, com implicações vivenciais. Importa no jogo ritual, explicitar a dimensão mistagógica da música litúrgica que, ao assumir seu protagonismo na celebração, transporta-nos para o mistério ou oferece aberturas para esse acontecimento. A vivência da palavra cantada na liturgia, torna possível ressoar o mistério celebrado que tem consequências na vida concreta dos fiéis. É preciso descortinar o mistério, silenciar e “gritar”, gastar-se para ser, conectar-se responsavelmente para ter o coração na boca. A música litúrgica é percebida, então, como epifania da Palavra de Deus que confronta nossa incapacidade de perceber-nos como um corpo na Igreja.